Só podemos amar o que conhecemos, e nunca podemos conhecer completamente o que não amamos. O amor é um modo de conhecer, e quando é suficientemente desinteressado e intenso, o conhecimento torna-se conhecimento unitivo e, desse modo, adquire a qualidade da infalibilidade. Onde não há amor desinteressado (ou, mais sucintamente, onde não há caridade), só há amor de si mesmo e, conseqüentemente, mero conhecimento parcial e distorcido, assim do eu como do mundo das coisas, das vidas, das mentes, e do espírito fora do eu. O homem alimentado de lascívia “escraviza as ordens do Céu” – isto é, subordina as leis da Natureza e o espírito aos seus próprios anseios. O resultado é que ele não sente (ausência de sentimento) e, por conseguinte, faz-se incapaz de conhecimento. Sua ignorância, afinal de contas, é voluntária; não pode ver porque “não quer ver”. Essa ignorância voluntária tem, inevitavelmente, a sua recompensa negativa. Às vezes de um modo espetacular, como quando o homem cego pelo “eu” cai na armadilha montada por sua própria ambição, ou sua possessividade, ou sua vaidade petulante; às vezes, de modo menos óbvio, como nos casos em que o poder, a prosperidade, e a reputação duram até o fim, porém, à custa de uma impermeabilidade cada vez maior à graça e à iluminação, uma incapacidade cada vez mais completa de escapar, agora ou daqui por diante, da prisão do egoísmo e do estado de alienação. Quão profunda pode ser a ignorância espiritual pela qual se punem esses “escravizadores das ordens do Céu”.